sábado, 13 de janeiro de 2018

CAPÍTULO 22: LICÃO 18 – ESCOLHA AS BATALHAS QUE VALEM A PENA LUTAR



Uma nova semana se iniciava, e eu bem sabia que ainda teria que enfrentar a repercussão dos ataques de pelanca de Beatriz com a visita de Celina. Mas, eu estava serena para enfrenta-la, isso não queria dizer que não me desgastaria da mesma forma. Ainda no estacionamento, uma figura rara de se ver nos últimos tempos me surpreendeu: Clarisse, que me interpelou:

-- Ei, sumida! Agora só tem tempo para palestrantes importantes, senhora dos artigos A2?

-- Olha só quem fala, aquela que quando namora, é engolida por um buraco negro, lá não pega sinal de celular?

-- Que injustiça, te mandei os parabéns quando vi a publicação do seu artigo mais bam bam bam.

-- Clarisse, você me mandou um GIF, do Chandler do Friends batendo palmas.

-- Ah, que chata, não tem bom humor?

-- Eu não valho dez segundos de toque no teclado do seu celular? Não tem justificativa.

-- Tudo bem, aceito, minha culpa! Vamos almoçar juntas então? Colocar a fofoca em dia? Soube pelos corredores que teve um bafo aí com a Beatriz e a Celina, verdade?

-- Estão falando? Ai meu Deus...

-- Luiza, claro que iam falar, cheio de alunos e professores fofoqueiros, tem até vídeo viu, não duvido colocarem no Youtube.

-- Era só o que me faltava! A Celina não merece isso!

-- Hum... Preocupada com a Celina... Rolou um remember então?

-- Sou uma dama, não vou falar dessas coisas assim em público. – Brinquei.

Enquanto conversávamos, não nos dávamos conta de quem estava perto de nós, só quando Marcela nos ultrapassou nervosa, derrubando os livros pelo chão. Rapidamente nos prontificamos a ajuda-la, e ela falando baixo, sem me encarar:

-- Obrigada, mas, já recolhi tudo, bom dia.

Saiu correndo como um bichinho do mato assustado. Aquilo me doeu de maneira insana, a acompanhei com os olhos até vê-la entrar na sala de aula.

-- Lu, então fica certo nosso almoço?

-- Claro... nos encontramos aqui no estacionamento. – Respondi distraída.

Passado o almoço, falei superficialmente o que acontecera na visita de Celina, focando nos escândalos de Beatriz, e deixei claro que ficamos, não queria que Clarisse desconfiasse de nada em relação a Marcela, por que ela a tinha visto em minha casa. Depois da reunião com o GRUFARMA como sempre fiquei dando orientações para alguns alunos, sempre me estendia até a noite nas segundas. Quando enfim eu pronta para sair do meu gabinete, o encontro que evitei o dia todo se fez bem ali na minha frente: Beatriz estava à porta do meu gabinete, exigindo uma conversa.

-- Não aceito recusa, nós vamos conversar aqui e agora, Luiza.

-- Bom, como você não aceita recusa, não adianta eu dizer que o gabinete é meu e aqui você não manda em nada não é mesmo?

-- Não adianta, a não ser que você queira que seus alunos que estão aqui fora escutem meus gritos.

-- Golpe baixo, está adorando essa fase barraqueira heim? Sabe que odeio esse comportamento, quanto mais age assim, mais me afasta.

-- No amor e na guerra, vale tudo, não é o que falam?

-- É, e para você, isso se transformou mesmo em uma guerra não é Beatriz?

-- Não, você não está entendendo nada, Luiza!

Beatriz praticamente se jogou nos meus pés, imediatamente eu afastei minha cadeira.

-- Opa, que é isso? Beatriz, para de cena! Basta!

-- Cena? Estou enlouquecendo, não percebeu? Luiza, eu não posso te perder! O que foi que nós combinamos meses atrás? A gente se daria uma chance, eu disse que iria te reconquistar...

-- Calma aí... Combinamos? Eu achei que você estava perturbada, mas, agora eu tenho certeza, você tem razão, está enlouquecendo mesmo. Nós não combinamos nada, você me disse que iria me reconquistar, e tudo que fez foi me mandar umas rosas, umas mensagens, trocamos uns beijos, e pelo que sei continua lá com a Alicinha.

-- Estou indo com calma, para que a Alicinha não venha se vingar de você. Aí você simplesmente, volta com sua ex-namorada, a que eu mais odeio! Desde quando estão juntas?

-- Poupe-me dessas suas desculpas esfarrapadas, você não me enrola mais, Beatriz. E quanto a Celina, não é da sua conta.

-- Não? Então é isso, Luiza? Está desistindo de nós?

-- Beatriz, eu já desisti faz muito tempo. Só você não percebeu. Sai da minha sala por favor.

-- Não saio até você me ouvir, eu vou deixar a Alicinha, eu já aluguei um apartamento...

-- Não vai sair? Saio eu, não quero mais te ouvir. Vai deixar a Alicinha, certamente é por sua causa, não por minha causa, eu te conheço, Bia. Vou pedir para um dos seguranças do campus vir fechar a sala, é melhor você sair.

Saí da sala sem olhar para trás, pelo menos por hora, estava encerrada aquela batalha. O que eu não podia supor é que ao sair do laboratório encontraria Marcela, parecia estar sendo pega em flagrante delito, se esquivando atrás de um painel de avisos.

-- Marcela?

Como um meliante que se entregava a uma autoridade, Marcela saiu da pequena penumbra, com a mochila pendurada de um lado só do ombro, com uma mão no bolso da frente da calça:

-- Oi, professora.

Os olhos vermelhos, ainda um pouco ofegante, o buço suado, denunciavam seu nervosismo.

-- Você estava no laboratório?

-- Desculpa professora, eu estava no banheiro, ouvi uns gritos, fiquei sem saber o que fazer, e depois...

Eu não sabia se ria, se ficava constrangida, preocupada ou feliz pelo fato de Marcela ter ficado lá no laboratório pela curiosidade em ouvir o meu bate-boca com Beatriz.

-- Tudo bem, Marcela. Beatriz não estava preocupada com discrição.

-- Ela estava fazendo o que podia para não te perder, cada um faz o que pode...

Marcela falava baixo, me olhando com ar de tristeza, e isso me apertava o coração de uma maneira indescritível, queria colocá-la no colo e abraça-la e não soltar mais. No entanto, o velho instinto de autodefesa deu o ar da graça:

-- “Fazer o que pode” -fiz o gesto das aspas com os dedos - tem parâmetros diferentes para cada pessoa. – Deixei minha mágoa falar.

-- Muito fácil apontar o dedo, para quem está em uma posição confortável com mulheres brigando por você, e você podendo escolher com quem ficar.

-- Duro é não ser escolhida por quem você quer!

Minha batalha com Marcela não houve vencedora, mas eu bati em retirada, fugi do olhar dela que de repente marejou, junto com minha voz embargada. Andei rápido, quase corri para o estacionamento, por pouco não dei conta de achar as chaves do carro na minha bolsa, estava trêmula, joguei as coisas no banco de trás e ao me sentar ao volante, desabei, em um pranto que parecia não ter fim.

Qual não foi minha surpresa quando a porta do carona se abriu, e no banco, Marcela se sentou, limpou o rosto molhado de lágrimas e pediu:

-- Por favor, me leva para algum lugar, a gente precisa conversar.


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