quarta-feira, 22 de novembro de 2017

NOVO: MANUAL NADA PRÁTICO

CAPÍTULO 14: LIÇAO 12 – A VERDADE NEM SEMPRE É COLORIDA

Pausa para pânico. Processar aquelas informações que Ed acabara de nos trazer.

Chegamos à sala, prontas para nos entregarmos a polícia, eu, imaginando minha carreira descendo lama abaixo em um noticiário das 6 com a voz do Datena anunciando a prisão da professora universitária, e eu, cobrindo com minhas mãos o rosto para não matar meus pais de infarto ou AVC ao mesmo tempo. Numa fração de segundos imaginei a Cris se tornando a nova dona do pedaço na carceragem, com uma namorada em cada pavilhão, e eu, sendo a eterna protegida dela.
Clarisse merecia uma medalha de honra ao mérito pelo sobriedade e sensatez naquele final de semana, certamente, as cinco encarnações que ela odiaria a Cris mereciam a recompensa nessa vida ainda. Ela já estava na sala, entregando as chaves do carro, explicando toda situação, e para minha surpresa, um dos amigos do Ed, era advogado, e logo chamou para si a responsabilidade de nos defender. Felizmente, o carro foi localizado em uma rua próxima a boate, exatamente no local que a foto registrava. A dona do carro, era nada menos do que a morena sensacional da Cris, que tão bêbada quanto nós, não lembrara onde estava seu carro, muito menos as chaves.

O mal entendido foi esclarecido, e aquela noite rendeu o suficiente de assunto para o resto do final de semana. Para nosso alívio, até para diminuir o pagamento do carma, Karla voltou a casa de praia, e enfim, se entendeu com a Clarisse. E eu, vez por outra escapulia, para espiar minhas redes sociais, na esperança de que naquela lista de solicitações de amizades que as notificações do Facebook me mostrava, houvesse o pedido de Marcela.
A frustração me acompanhou, e a imaginação continuava a fluir, e cada vez mais me sentia mais convicta em colocar em prática o plano da criação de um perfil fake para “stalkear” a vida de Marcela. Esqueci-me apenas do pequeno detalhe naquela confusão do feriado na casa de praia: a memória da Cris, ela não me deixaria em paz até descobrir o que eu sentia por Marcela.
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Diante da tela do meu notebook eu só pensava: “Que nome atrairia Marcela?”. Naquele território inexplorado para mim, nada que uma boa “googlada” para achar o mais vasto repertório para fazer nascer uma nova pessoa: fotos, imagens, frases, afinal de contas, até sites especializados no assunto já estava disponível. E eu me sentindo a criatura mais desesperada do universo, ahah! Advinha só? Como eu, existiam milhões de mulheres que apelavam para o mesmo recurso.

Mas, não podia ser qualquer imagem, qualquer nome. Paradoxo ridículo: ser única no meio de tantos perfis falsos, única e irresistível para que Marcela me aceitasse. Não perdi a esperança da própria me adicionar no meu perfil verdadeiro, entretanto, a vida, essa adorava me fazer de trouxa. Ironicamente, naquele feriado, eu devo ter aceitado todas as solicitações de amizade de alunos, exceto a que eu mais precisava.
E... pronto! Estava criada a mais nova gata sensual, blogueira, intelectual moderna, enigmática e filósofa Lorena Bachio. A última vez que passei tanto tempo fazendo escolhas, foi no supermercado, na minha frustrada tentativa de me tornar vegana (tentativa que durou exatamente 12horas e um estoque de soja que alimentaria uma expedição da NASA por um mês pela órbita terrestre).
O encerramento do meu feriado, foi coroado com “essa nova mulher, aqui dentro de mim”. Dentro de mim uma ova, Lorena Bachio era para mim, o estereótipo que se adequava a Marcela, a imagem de Laura foi um bom parâmetro, já que eu, concluíra sozinha que a garota possessiva era a namorada da minha pupila.
Perfil criado, personagem montado: estudante de mestrado em farmacologia da mesma universidade, graduada em farmácia, amante de artes cênicas, feminista. Em questão de horas, Lorena já tinha mais solicitações de amizade do que eu. E eu, experimentando algo novo, uma liberdade que só a internet pode dar de uma maneira fugaz: SER QUEM VOCÊ QUISER. Saí adicionando as menininhas todas, que tinham alguma ligação com aquelas que me adicionaram, e aquela janelinha do bate papo, saltava horrores. Assuntos fúteis, convites para “sociaizinhas”, pedido de homem tarado para ligar a webcam, e eu inusitadamente, me divertia naquele mundo, até ter a coragem de enviar a solicitação de amizade para meu alvo principal: Marcela.
Dormi ali por cima do meu notebook, exausta de copiar e colar as mesmas coisas naquele monte de janela de bate-papo, ow mundo brejo! Muita sapa nesse universo! Por pouco não perdi a hora para chegar à universidade, porque precisava conferir se meu plano estava evoluindo, e agora, eu precisava logar em duas contas diferentes de Facebook. Mentalmente eu já começava a fazer mil conjecturas, se, eu conseguisse conversar com Marcela, sob a segurança de outra personalidade. Perceberam o tamanho da minha enrascada emocional? Eu não... Hora, estava olhado o telefone, hora olhava o tablet, hora o notebook, e aquelas malditas bandeirinhas vermelhas começaram a me escravizar.
Na sala dos professores, se eu já estava reclusa pela presença espaçosa de Beatriz, agora, estava absorta, assumindo um costume nada benéfico: viciada no mundo virtual. Alheia a qualquer pauta sobre as manifestações do sindicato dos professores, o corte de verbas para as pesquisas e bolsas, eu me focava nos meus apetrechos tecnológicos. Busca completamente insana, e até então, sem êxito. Antes de deixar o campus, decepcionada por não encontrar Marcela nem no mundo virtual e tampouco no mundo real, passei pelo laboratório na última esperança de ter algum sinal de fumaça daquela que me roubara todos os pensamentos.

-- Oi Humberto! Está sozinho aqui? Nenhum dos seus colegas veio hoje?

Perguntei tentando disfarçar minha real dúvida. Humberto, era um dos novos bolsistas aprovados no GRUFARMA, colega de Marcela.

-- Ah, oi professora! Marquei com mais dois colegas, mas, furaram comigo. Tudo bem, se eu ficar por aqui? Quero finalizar o resumo para o congresso que a senhora falou. A Alessandra estava me ajudando nessas lâminas.

-- Claro que pode ficar aqui, mas, não é a Alessandra que tem que te ajudar no trabalho. Ela é técnica do laboratório, onde estão seus colegas?

-- Então, o Artur está em aula ainda, e a Marcela, não apareceu hoje.

-- Marcela não apareceu? Aconteceu algo? – Meu coração já acelerava.

-- Nem sei dizer professora, ela só me mandou mensagem avisando que não poderia vir, e me disse que faria a parte dela em casa.

-- Ela acha que pode fazer atividades de laboratório em casa? Faça-me o favor de avisar que se o trabalho não for feito aqui por todos, não permitirei que o nome dela entre na submissão.

Mal percebi que não disfarcei minha decepção raivosa, e completei a tempo:

-- Diga o mesmo a Artur. A função da Alessandra não é substituir os alunos nos trabalhos.

Respirei fundo e saí dali me sentindo uma bruxa mal amada. Talvez por isso, meu novo vicio no mundo virtual me deu alento. Não podia negar o quanto me envaidecia o assédio das meninas no meu perfil falso, já que no meu perfil verdadeiro, eu não conseguia derrubar a barreira que eu lutei anos para construir, não dando espaço a qualquer aluno me incomodar através daquela mídia social. Fazia questão de estabelecer essa norma para todos, sem exceção, era mais um dos fatores que contribuía para minha péssima fama de chata e inflexível.
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Durante a semana, Marcela sumira. Não compareceu as aulas, nem a reunião do grupo de pesquisa. Entre os membros do grupo, foi a única a não se manifestar sobre o andamento dos resumos para submissão do congresso, o primeiro que iríamos como atividade do grupo. Não respondeu e-mails, nem mesmo um simples emoticon no grupo de whatsapp. Isso não só me preocupava, me tirava a paz!

Ao contrário de Marcela que me fez sofrer com sua ausência, Cris não me esqueceu. A noite de sexta chegou com a minha amiga na minha porta, me sacaneando, com uma garrafa de tequila na mão.

-- Demorei, baby, mas, estou aqui!

-- Chagas abertas! Você entra Cris, esse demônio aí em forma de garrafa não!

-- Dramáticaaaa! Cuervo fica aqui, para lembrarmos o quão mulherzinha nós somos!

Cris colocou a garrafa na mesa de centro da sala, depois de me arrancar uma gargalhada.

-- Estamos ficando velhas, fato! Quando um “Cuervo” nos derrubava assim? Nunca! Acho que batizaram nossa bebida, não é possível... – Cris comentou.

-- Cris, nós enfiamos o pé na jaca, não foi só essa garrafa que bebemos... Meu cartão de crédito pelo menos me disse isso.

-- Você também pagou conta alta? Tem algo errado aí, toda aquela bondade da Clarichata tinha um motivo, ela nos deu um golpe, isso sim!

-- Para de falar bobagem! Você vira o próprio Neymar, quando está bêbada, fica milionária, pagando bebida pra todo mundo, e quem garante que não foi a morena fenomenal que você estava pegando? Clarisse não precisa disso, Cris.

-- Ah! Que seja, pagaria de novo, se eu a encontrasse, depois de tentar roubar o carro dela, pensei que nos veríamos...
Gargalhamos, foi inevitável.

-- E por falar em carro roubado... Quem é Marcela?

-- Oi?! – Fiz cara de surpresa.

-- Não banca a sonsa. Essa foi a pergunta que fiz no final de semana, quando fomos interrompidas pelo Ed, falando do tal roubo do carro. Manda a real, quem é Marcela?

-- Marcela? Sei lá, de onde você tirou esse nome? – Levantei-me e caminhei em direção a cozinha. – Quer uma cerveja?

-- Luiza, qual é! Alouuu, quem pensa que engana? Eu te conheço de muitas tequilas, cervejas e porres atrás! Sem enrolação, manda, quem é essa garota?

-- Cris, de boa, não sei do que você está falando. Você se lembra do que o Ed contou? Eu estava na pista de dança com mulheres lindas, uma até batizei com meu vômito, vai ver o nome de alguma delas era esse... Quer ou não a cerveja?

Berrei da cozinha a pergunta, querendo me esquivar de novo do interrogatório.

-- Traz essa cerveja, mas, não pense que você me enrola não. Tem perereca aí nesse brejo, e eu vou descobrir mais cedo ou mais tarde.

-- Não duvido da sua habilidade de caçar perereca! – Gargalhei – E falando especificamente nesse anfíbio... O que faz você estar aqui no meu apartamento em plena noite de sexta?

-- Semana puxada, e estou de plantão na obra do condomínio novo, então, vou dar oportunidade para outras caçadoras brejeiras...

-- Então, quando você está de castigo, minha companhia é seu destino?

-- Menos, Lu.

Cris revirou os olhos, e como era tão próprio dos nossos encontros, ela me fez rir e esquecer por alguns momentos, o motivo que absorvia as energias dos últimos dias. Contudo, não o suficiente para me impedir de mergulhar no universo virtual em busca das meia-verdades, a ilusão e a esperança de ser outra pessoa através de likes e bate papos bobos e fantasiosos. A ausência de Marcela me confundia, e pior, me perturbava.

Aquela chuva de informações me saturou. Eu precisava de notícias de Marcela, precisava de um passo em direção a ela, também pelo meu dever como professora e orientadora dela no grupo de pesquisa, aquele sumiço poderia representar atraso no rendimento dela, e nas atividades da pesquisa. É, vez por outra, eu consigo a façanha de enganar a mim mesma, qualquer terapeuta de meia tigela veria meu subterfúgio para justificar minha necessidade de ligar, mandar mensagem, e-mail, com remetente específico. Não era a professora Luiza preocupada, era Luiza, a mulher aturdida como uma adolescente apaixonada.

Peguei o telefone, e pelos dados do grupo de pesquisa, puxei uma janela no whatsapp com contato de Marcela, e com as mãos trêmulas, enviei:
“Marcela, bom dia. Estou preocupada com você, preciso de respostas aos e-mails do grupo de pesquisa, aguardo seu retorno”.
Talvez a mensagem fosse fria, mas ela continha tanta preocupação. Postei imediatamente no meu perfil fake um verso de um poema, de um filme do Oswaldo Montenegro:
“E se acaso não crer em minha partida, comece a contar de sempre os dias da minha ausência”
Era minha outra personalidade pedindo perdão por ser tão distante nas palavras, de alguém que sofria insana e precocemente a ausência contada, dia a dia, em outros parâmetros, a cada visualização da caixa de entrada do e-mail, mensagem do celular...
Não podia mais tolerar tamanho silêncio. Assumi meus TOCs, e comecei uma faxina daquelas que começou na minha escrivaninha e quando me dei conta, já estava com lenço na cabeça, revirando os papéis e pastas da minha estante. Com a faxineira incorporada, nem percebi a noite cair, somente quando o interfone tocou me dei conta da escuridão que estava pela casa, quando tive que tatear os interruptores até atender a chamada.

- Oi, quem é? – Perguntei ofegante.

- Oi Professora Luiza, desculpa o incomodo, sou eu, Marcela.

Pausa para uma pequena vertigem e um turbilhão de sensações. Disfarçando minha agonia e pressa em vê-la, fui econômica nas palavras:

-- Oi Marcela, melhor você subir.

Respondi de pronto, autorizando a entrada do meu desassossego. Logicamente esqueci-me do meu status de mulher do lar, ao passar de frente a geladeira de inox, eu vi meu visual doméstico. Para! Marcela não pode me ver assim! Tarde demais, a campainha já tocava, e eu não tinha poderes da “Supergirl” e sair tirando minha capa de “diarista”. Uma conferida no poder do Rexona no máximo foi o que deu tempo.

-- Oi Marcela!

Cadê meu fôlego? Subitamente me vi sem ele, alguns rastros me sobraram, acenando com a cabeça pedindo para Marcela entrar. Minhas pernas tremiam, e meu coração palpitava, primeiro pelo alívio de vê-la sã e salva na minha frente, segundo, por que ela, bem... Não me perguntem como, mas, ela estava mais linda desde que a vi...Pareceram meses... E foram apenas dez dias?
As mãos dentro do bolso da frente do jeans rasgado, na cintura uma camisa quadriculada amarrada, e uma camiseta com estampas da Minie. Que sexy! Não riam! Aquela imagem, era de longe, uma das mais sensuais que registrei em muito tempo. O sorriso, bem, esse estava opaco, Marcela mal me encarava, os óculos de grau disfarçavam as olheiras, não o suficiente para meus olhos atentos.

-- Professora Luiza, eu gostaria de pedir desculpas pelo sumiço, esses dias sem cumprir meus compromissos com o grupo de pesquisa... Eu estava passando aqui perto, bom, achei que merecesse um pedido de desculpas pessoalmente e não por e-mail...

-- Marcela, o que houve? Você não parece bem...

Não deu tempo eu concluir o meu texto, e já percebi uma lágrima escapar pelo canto do olho de Marcela. Contive minha vontade de abraça-la e apertar seu rosto no meu peito, e consolá-la, seja qual fosse sua aflição.

-- Ei, sente-se um pouco. Respire. – Conduzi Marcela até o sofá e pedi que sentasse, e fiquei diante dela, sentada no puff – Agora me conte o que está acontecendo.

-- Professora, eu tive alguns problemas, na verdade, não são problemas meus, mas, me afetaram, e tive que me ausentar esses dias.

-- Tudo bem, Marcela, todos temos problemas, mas, me diga, posso ajudar em algo? – Eu estava aflita, e queria ela confiasse em mim.

-- Está tudo bem agora professora, pelo menos... Acho que está. Só queria deixar claro que esse sumiço não vai se repetir e amanhã mesmo eu concluo minha parte nos resumos, e na segunda, enviamos para sua avaliação.

-- Marcela, calma. Estou preocupada com você, não com os trabalhos da pesquisa, sei que vocês farão a tempo. Posso te perguntar uma coisa?

-- Claro, professora.

-- Antes do feriado, quando estávamos no estacionamento do campus, aquela garota...

Marcela baixou a cabeça e a balançou negativamente, e deixou uma expiração longa quase resmungar.

-- Laura, o nome dela. Sinto muito professora, ela não é daquele jeito. Mas, foi grosseira e mal educada com a senhora, perdoe-me.

-- Lembro-me do nome, isso mesmo, Laura. Impressão minha, ou ela, não gosta de mim? Eu já fui professora dela? Não costumo esquecer-me de alunos, mas...

-- Não, professora, Laura é da minha cidade natal. Ela só conhece a senhora de nome, falo muito sobre a senhora...

-- Senhora? Pensei que já combinamos deixar esse tratamento formal de lado... Ora Marcela...

-- Estou me policiando...

-- Policiando, mas, por quê? Não estou entendendo.

-- Professora, aceite minhas desculpas, foi uma situação desagradável, mas, não vai se repetir também. – Marcela desconversou.

-- Tudo bem então. A Laura então é da sua cidade e veio passar o feriado com você e estava com problemas?

-- Mais ou menos isso. Ela veio passar o feriado comigo e depois disso, resolveu ficar.

-- Resolveu ficar?

Minha curiosidade já começava a se mostrar de maneira invasiva, mas, minha língua desenfreada pouco ligou para isso. Marcela levantou-se e outra vez notei outra lágrima densa escapar pelo seu rosto.

-- Ela está morando comigo agora. Surgiu uma oportunidade de estágio aqui, ela acabou de se formar, e não tinha onde ficar, então ela está morando comigo agora.

-- Ah... – Uma indagação ainda permanecia: quem diabos é essa garota para ela? Contive-me. – Então você tem uma nova colega de apartamento. Isso é um problema?

-- Como isso é difícil de falar... Professora, ela é minha namorada.

Maysa (a cantora já morta, não aquela menina prodígio que Silvio Santos criou) cantou no meu ouvido: Meu mundo caiu...

-- Estávamos praticamente terminando o namoro, mas, essa reviravolta, ela precisando começar uma carreira, e com oportunidade aqui, não pude negar... Então passei a semana procurando um apartamento com mais um quarto, já que estava tudo acertado para eu dividir apartamento com a Jéssica, tivemos que procurar outro, e aí além de fazer a minha mudança, acabei tendo que ajudar na mudança da Laura também...

-- Então era esse o problema que te fez sumir esses dias todos?

-- É complicado...

Respirei fundo, como se compartilhasse a angústia de Marcela.

-- Você está com medo, de ter que de uma hora pra outra morar com sua namorada, quando o namoro já não estava indo bem...

Marcela só concordou com um gesto, e sentou em outra poltrona do sofá. Aproximei-me dela e não sei de onde surgiu aquele insite de serenidade, e consolei-a:

-- Vai ficar tudo bem. Você praticamente passa o dia na faculdade, terão rotinas diferentes, não se sinta pressionada, e já que está me dizendo que ela não é daquele jeito como se comportou, considere que será uma boa companhia, e quem sabe faça bem para o namoro de vocês.

-- É que... As coisas não são mais como eram lá no interior, na nossa cidade. Alguns sentimentos mudaram, novas pessoas... Saí daquela cidade para ser um pouco mais livre...

-- Não sofra por antecedência, vai dar tudo certo. Não se prive de sua liberdade, isso não seria saudável para nenhuma de vocês.

Marcela deu de ombros, demonstrando sua completa insatisfação. E eu, amargava minha decepção. Quem foi que escolheu uma bandeira colorida como representação do mundo gay? A verdade para minha “sapice” ali era cinza, assim como a noite daquele sábado e o domingo inteiro de chuva.

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