sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

SOCIEDADE SECRETA LESBOS - DÉCIMO QUARTO CAPÍTULO

Capítulo 14



Aquele momento de reflexão vazia rendeu a Amy uma decisão. Estava convencida a dar o troco a Esther, não se submeteria mais aos desmandos da morena. Não sabia como se livraria das tais obrigações de gratidão com sua irmã guia, mas estava certa que mudar sua postura com Esther seria prioridade nos próximos dias.

Levantou-se da cama, depois de um longo banho, vasculhou no guarda-roupa o traje condizente com sua nova condição. Já havia perdido aula naquele dia mesmo, então se arrumou sem pressa.

Esther chegou a casa com um humor terrível, reclamou da bagunça das meninas, o que deixou todas irritadas. Rachel até imaginara o que poderia ter acontecido, mas como sempre, respeitou o tempo da amiga, conversar naquele momento não seria o apropriado. Observou a morena pisar forte a escada em direção ao terceiro andar, e em poucos minutos descer com outra roupa, saindo pela porta sem olhar pra trás.

Esther caminhou pelo campus sem um rumo certo, tentou se concentrar na aula de artes, mas foi inútil, só tinha um pensamento: Amy. As lembranças da noite se confundiam com a decepção da loirinha diante de sua reação, sentiu medo e culpa. Medo do sentimento que via crescer por Amy e culpa por se esquecer de seus planos de vingança.

Na casa da fraternidade Gama-Tau, Amy descia as escadas com uma micro saia, camiseta colada no corpo, e um salto delicado, alongando e definindo mais suas belas pernas. Cabelos soltos, com as pontas cacheadas, e uma maquiagem discreta. Era a típica visão de parar o trânsito, e foi o que aconteceu no térreo da casa: as Gama-Tau, paradas, observando cada detalhe da produção da novata.

Poucas meninas estavam naquela hora assistindo aulas, as veteranas principalmente. Ellen fixou o olhar em cada descida de degrau da loirinha, comendo-a com os olhos, com o desejo evidente qual predadora diante de sua presa.

Laurel não teve boa sensação ao ver sua amiga com aquelas roupas. Rachel teve o mesmo sentimento, assim, achou que era momento de procurar Esther no campus a fim de saber da amiga o que acontecera de fato naquele barco. Laurel, por sua vez, aproximou-se da novata:

-- Precisamos conversar, Amy... Você tem um minuto?

-- Sim, tenho... Laurel, onde encontro o estatuto da fraternidade?

-- Na biblioteca, vamos, te mostro.

Lá Amy se concentrava lendo o que o estatuto falava sobre a escolhida da presidente, e comentou com Laurel:

-- As demais não podem me tocar né...? Mas não fala nada sobre quem eu posso...

-- Amy... O que está passando por sua cabeça?

-- Você vai saber, Laurel... Mas me diga, o que você quer conversar comigo, afinal?

-- Amy... Não gosto desse tom... E essas roupas?

-- O que tem minhas roupas?

-- Provocantes demais, Amy, você sabe!

-- Está se sentindo provocada, Laurel?

Laurel ficou ruborizada, mas logo desfez a timidez diante da intromissão de Ellen, que entrou na biblioteca:

-- Eu estou... Você sabe mesmo provocar...

-- Ellen, você não tinha que estar fazendo as compras da semana com a Lucy? -- perguntou Laurel, visivelmente incomodada com a presença da colega.

-- Vim perguntar se a Amy não gostaria de nos acompanhar...

Antes que Laurel impedisse algo, Amy já se adiantou em ficar ao lado de Ellen respondendo num tom tão provocativo quanto sua roupa:

-- Gostaria sim de acompanhar você, Ellen... Vamos?

-- Amy, a Esther...

-- Ela o que, Laurel? Acabei de ler o estatuto, nada me proíbe de sair com uma irmã para fazer compras para casa... O que ela vai reclamar?

Laurel não soube como argumentar uma vez que o timbre da voz de Amy chegava a intimidar tamanha a segurança que ela esboçava. Ellen em contrapartida tinha um sorriso vitorioso nos lábios. Saiu da casa seguida por Amy e mais duas irmãs com destino ao supermercado. Fez questão que a loirinha sentasse no banco do passageiro na frente, não disfarçava a satisfação de ter Amy ao seu lado. Esta, por sua vez, jogava os cabelos sedutoramente enquanto cruzava e descruzava as pernas expostas para o delírio de Ellen, que sorria maliciosa olhando com o canto do olho.

Durante as compras, Amy não só era atenciosa com Ellen, mas com as demais meninas também. As abraçava para o susto delas, usufruindo o direito de tocá-las como arma de sedução, já que as meninas não podiam retribuir. Amy abusava das provocações, o que rendeu muitos risos entre as meninas, assegurando um grau de intimidade nas compras. Ellen parecia mais do que encantada com a atitude da novata, parecia satisfeita e cheia de intenções. A tarde seguiu em um clima tão leve entre as irmãs Gama-Tau, que Amy por alguns momentos se esqueceu de sua manhã terrível.

Voltaram na mesma animação, dentro do carro, Amy passava as mãos pelos cabelos de Ellen em meio a sorrisos. A veterana chegava a ruborizar com tal gesto. As meninas descarregavam o carro em meio a brincadeiras, gargalhadas, nem notaram a presença da presidente da fraternidade na varanda, de braços cruzados fuzilando-as com o olhar vendo Amy esbanjar charme, em tapinhas no bumbum, mão no ombro...

Ao subir com as compras as meninas foram percebendo a presença de Esther com cara de poucos amigos. Ellen se desmanchava em sorrisos para Amy, mas involuntariamente os desfez ao encarar Esther. Amy, pelo contrário, não perdeu a compostura, manteve seu sorriso e ainda acrescentou:

-- Você devia sorrir mais, digníssima presidente, cara feia pra mim é fome...

Esther não esmiuçou uma reação, e Amy fingiu nem perceber a irritação estampada na face morena da presidente da fraternidade. Seguiu para dentro da casa, convocando as meninas que estavam desocupadas a ajudar na guarda das compras.

Esther permanecia de braços cruzados observando a movimentação, Rachel também, mas sua atenção era para amiga que evidenciava o mau humor com o silêncio.

Depois de algum tempo, vendo Amy se tornar a novata mais popular do momento, Esther fez menção de se dirigir a ela e repreender seus gestos de carinho com as demais Gamas-Tau, mas foi impedida por Rachel, que cochichou:

-- Ela leu o estatuto, e sabe que é proibido tocá-la, mas amiga, as meninas estão imóveis, é ela quem as está tocando...

A morena respirou profundamente e sentou-se no fundo da sala, mantendo o olhar na sua escolhida. Viu-a subir as escadas, ignorando seu olhar. Esther a seguiu até seu quarto, não permitindo que Amy fechasse a porta. Empurrou-a para dentro e vociferou:

-- O que você acha que está fazendo, hein?

-- Entrando no meu quarto, o qual você está invadindo...

-- Já te disse pra não me provocar...

-- Você pode me dizer o que eu fiz, digníssima presidente?

-- Olha aqui, ninguém me expõe assim, não...

Amy sorriu com a falta de argumentos de Esther, caminhou pelo quarto fazendo graça da cara irritada da morena. Foi tirando peça por peça de sua roupa enquanto caminhava, e olhou para Esther, com superioridade:

-- Se você me der licença, preciso de um banho...

Esther não conseguia desgrudar os olhos do corpo da loirinha, sua respiração começou a ficar descompassada enquanto Amy se deliciava com sua reação, se dirigia ao banheiro calmamente. Quando a morena avançou em sua direção:

-- Não dou licença, não...

Amy se afastou, mesmo sentindo-se atraída pelo desejo explícito no olhar de Esther. Encararam-se por segundos, e quando parecia impossível resistir, o celular da morena tocou, e mais uma vez, a novata viu a expressão de Esther se transformar como vira anteriormente em outro telefonema:

-- Agora não posso, você sabe que tenho aulas toda semana... Não, não é isso... Eu sei, sei que tenho que te atender... Mas... Ok, estou indo, no lugar de sempre, certo...

Amy sentiu vontade de perguntar algo, mas conteve-se, entrou no banheiro decepcionada, mas Esther ainda a seguiu, parou na porta e disse:

-- Nossa conversa ainda não acabou.

-- Não temos nada a conversar, se precisar de alguma orientação lhe procuro, e você, se precisar de favores, sabe onde me achar. Não quero conversas com você.

Esther ficou desorientada com a segurança que Amy expressava nas palavras, algo em seu olhar havia mudado, mas não podia prolongar aquela discussão, tinha obrigações a cumprir. Desceu rapidamente com a imagem da loirinha despida em sua frente. Ardendo de desejo, vestiu seu casaco de couro e montou sua moto deixando a fraternidade para um destino novamente desconhecido por Amy.

Mesmo contra sua própria vontade, Amy não conseguiu dormir até ouvir o barulho da moto de Esther se aproximar da casa. Ficou de pé perto da janela vendo a morena descer da moto e adentrar. Antes de entrar, Esther viu um vulto se movimentando perto da cortina do quarto da loirinha, engoliu a seco toda a vontade de entrar em seu quarto e tomar seu corpo mais uma vez e dormir abraçada à sua paz... Não podia fazer tal coisa, sempre voltava desses encontros misteriosos sentindo nojo de si mesma, sentia-se suja, violada, desejando apenas um longo banho antes de mergulhar em suas lembranças que a mantinha firme em seus propósitos de vingança.

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