Histórias e estórias, contos e romances, delírios e sonhos, fantasias para mulheres que acreditam no amor.
quinta-feira, 24 de maio de 2012
Valeu Marta!
A Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) aprovou projeto de lei da senadora Marta Suplicy (PT-SP) que introduz no Código Civil a união estável entre casais homossexuais e a possibilidade da conversão dessa união em casamento civil. A proposta não interfere nos critérios adotados pelas igrejas para o casamento religioso.
Para ser transformada em lei, a proposta ainda necessita de aprovação na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e no plenário do Senado e também na Câmara dos Deputados.O projeto define como entidade familiar “a união estável entre duas pessoas, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família”.
O projeto de Marta Suplicy transforma em lei a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que em maio do ano passado reconheceu a união estável entre homossexuais como unidade familiar. "O que nós fizemos foi colocar no Código Civil aquilo que o STF já fez", declarou a senadora.
De acordo com a Agência Senado, a relatora do projeto na Comissão de Direitos Humanos, senadora Lídice da Mata (PSB-BA), afirmou que o Congresso está "atrasado" em relação a outras instituições que já reconheceram a união de casais do mesmo sexo, como o STF, a Receita Federal e o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
Se transformado em lei, o projeto eliminará dificuldades de casais homossexuais para conseguir efetivar o casamento civil, apesar da decisão do Supremo. Mesmo com a decisão do STF alguns juízes argumentam que não existe legislação sobre o assunto.
fonte: http://g1.globo.com/brasil/noticia/2012/05/comissao-aprova-projeto-que-inclui-casamento-gay-no-codigo-civil.html
Demorou mais enfim postei novo capítulo que foi escrito em grande parte pela Têmis, obrigada mais uma vez pelo primor e pelo auxílio na escrita Têmis. O atraso dessa vez foi por minha culpa gente, uma tendinite está impedindo que eu escreva muito, assim, não vou mais uma vez marcar data para nova postagem, mas não desistam de mim! Faltam só dois capítulos.
Bjos a todas e obrigada pelo carinho.
Bjos a todas e obrigada pelo carinho.
2.38 In praesenti
No tempo presente;
agora.
A conversa com Julia deixou Diana pensativa por
dias. Inevitavelmente essa reflexão também a afastou de Daniela, que mesmo
incomodada com a situação não confrontou Diana, simplesmente lhe deu espaço.
O tratamento de Douglas parecia
surtir efeito, nas últimas visitas, o primogênito de Acrisio exteriorizava sua
culpa pelos crimes que cometera apesar de atribuir tal culpa a outro Douglas
que vivia dentro dele. Diana compartilhou com o pai essa notícia, ao contrário
da fotógrafa, Acrisio não se animou.
--
Pai é uma ótima notícia, o Douglas está tomando ciência do certo e errado, isso
é bom!
--
Pode ser filha. Eu não entendo muita coisa, sou ignorante. Mas, tem alguma
coisa dentro de mim me dizendo que isso não é um bom sinal.
--
Claro que é pai!
--
Tomara que sim filha. O julgamento está se aproximando e tenho medo que isso
afete seu irmão.
--
E o senhor? Como está se sentindo?
--
Estou tranquilo minha filha.
--
Não concordo com sua estratégia pai, pagar pelos crimes de Douglas não é justo.
--
Cometi muitos outros dos quais me safei, de alguma forma essa é uma maneira justa de me punir.
--
Estarei aí assim que acabar um trabalho aqui. Já conheceu seu neto?
--
Sim! É um principezinho não é? Muito parecido com a Lídia.
--
É verdade pai. Preciso ir agora, cuide-se pai.
--
Você também meu anjo.
--
Então, seu pai está bem?
Daniela perguntou entrando no quarto
onde Diana estava.
--
Estranhamente está. Na iminência de ser preso e está mais tranquilo do que
todos nós.
--
Então o julgamento foi marcado?
--
Sim para daqui a dois meses.
Daniela arqueou a sobrancelha
surpresa.
--
Pensei que demoraria mais pelo que você me disse da justiça brasileira.
--
Confesso que eu também esperava isso.
--
É por isso que você está tão distante esses dias?
--
Dani... Nós precisamos conversar...
--
Essa frase sempre precede algo desagradável não é?
Diana fez uma careta confirmando a
indagação de Daniela.
--
Ok, então vamos conversar meu bem.
--
Eu estou preocupada com a nossa situação. Quando essa mudança em nosso
relacionamento começou nós discutimos as condições para continuarmos, que não
implicaria em compromissos, que não seríamos exclusivas e que ao menor sinal de
perigo à nossa amizade nós acabaríamos antes de mágoas, se lembra disso?
--
Sim, claro que me lembro.
--
O que tenho percebido é que nós estamos cada vez mais envolvidas, eu não tenho
saído com mais ninguém e nem você, nos tornamos um casal e isso não é ruim,
mas...
--
Mas?
--
Não estou pronta para um compromisso com você ou qualquer outra pessoa antes de
saber como me portarei diante de...
--
Natalia.
--
É.
--
Minha querida o que te faz pensar que eu não estou saindo com outras pessoas?
Eu tenho saído sim, só não comento porque não acho de bom tom fazer isso.
--
Sério? Com quem você saiu?
--
Diana eu tenho saído com algumas mulheres, sem compromisso, mas com nenhuma
delas eu senti algo que me fizesse desistir do que temos... Concordo com você
que estamos mesmo muito envolvidas, e realmente está sendo maravilhoso.
--
É uma surpresa para mim, você é mesmo muito discreta, nunca poderia supor que
você estivesse saindo com outras pessoas.
--
Impressão minha ou você ficou chateada ao saber disso?
--
Não... É que... Imaginei que você me diria...
--
Ah Deus, você está chateada! Ciúmes? Sério?
--
Não torra Daniela! Não tem nada de ciúmes. Só pensei que seríamos honestas uma
com a outra e você me escondeu isso.
--
Não escondi, omiti apenas, está se sentindo traída?
--
Dani não viaja... Claro que você não me traiu.
--
Isso nos traz até o ponto dessa conversa não é?
--
É, acho que sim. Estamos caminhando para um namoro convencional, e eu tenho
muito medo de ferrar tudo, acabar com nossa amizade, acumular mais uma pessoa
magoada nesse meu rolo com a Natalia e não posso arriscar perder mais uma
amiga.
--
Está com medo de encontrar a Natalia?
--
Muito.
--
Com data marcada para esse encontro agora, eu também passo a temer seu
reencontro com ela, e sinceramente meu bem, não quero mesmo estar envolvida
nessa novela.
--
Então acabamos?
--
É o mais sensato não é?
--
Hurrum...
Diana falou baixou, encarando o
chão.
--
Isso não quer dizer que não estarei ao seu lado para o que você precisar tudo
bem?
--
Obrigada Dani, obrigada por me entender e ser tão incrível assim...
--
Vou aceitar o agradecimento por que meu ego precisa disso, mas, juro que não me
esforço para ser tão maravilhosa, é natural...
As duas gargalharam.
--
Di, está na hora de você ser feliz, tome uma decisão a favor da sua felicidade,
não deixe essa decisão nas mãos de ninguém, nem mesmo nas mãos da mulher que
você ama.
*******************
Os efeitos e consequências da
comemoração de Natalia e Carla perseguiram a morena durante dias. Silvia a
ligava insistentemente obrigando a promotora a se esquivar, muitas vezes
ignorando as chamadas no celular e se refugiando na casa de Carla por alguns
dias. A lembrança confusa do beijo em Eduarda atormentou Natalia que passou a
ter pesadelos constantes com a ex.
Disposta a esquecer-se definitivamente
daquela noite e se esconder da repercussão dela, Natalia mergulhou mais uma vez
no trabalho, reunindo suas energias para se preparar para o julgamento de
Acrisio.
No entanto, seu plano de
enfrentamento da situação falhou quando um encontro inusitado aconteceu.
Empurrando o carrinho de
supermercado, distraída, Natalia acabou por provocar um acidente no corredor de
lacticínios da loja, causando uma queda em cascata de dezenas de latas que se
espalharam pelo chão, mesmo com as tentativas da morena conter o desastre.
--
Isso pode ser causa de processo sabia? Fui atingida por uma lata de ervilhas...
--
Desculpe-me foi um acidente...
Natalia perdeu a voz quando encarou
Eduarda na sua frente segurando uma lata de ervilhas.
--
Olá Natalia.
Pálida, Natalia engoliu seco.
--Não
se preocupe, não vou processá-la.
Ainda muda, Natalia se apressou em
recolher as latas espalhadas pelo chão com ajuda de um funcionário do
supermercado, quando Eduarda insistiu:
--
Mas, não fuja do flagrante!
--
Eu não tive culpe, não estou fugindo...
--
Ei calma doutora!
Eduarda disse sorrindo segurando o
braço de Natalia que instintivamente o recolheu. Eduarda baixou os olhos e
deixou escapar:
--
Você tem medo de mim não é?
--
Desculpe-me Eduarda...
--
Você tem motivos eu entendo...
--
Olha foi só um acidente, assim como aquela noite na boate.
--
Eu sei. Será que você tem dois minutos para tomarmos um café e conversamos um
pouco? Pode ser aqui mesmo...
Constrangida em recusar Natalia
assentiu com um gesto e seguiram para a lanchonete do supermercado.
--
Não vou demorar, não quero atrapalhar suas compras.
--
E nem as suas não é?
--
Não vim fazer compras, entrei aqui quando vi você entrando por acaso.
--
Nem ao menos está perto de sua casa, acha que vou acreditar que você me
encontrou por acaso na porta desse supermercado?
--
Você acha que te segui não é?
Natalia fez um gesto qualquer
indicando que sim.
--
A julgar pelo que fiz a você, não seria difícil deduzir isso, mas estou falando
a verdade.
--
Eduarda, o que você tem a me dizer?
--
Preciso me redimir pelo que fiz a você, não ficarei em paz até você me perdoar
pelo que fiz a você.
--
Remissão? Eduarda eu não quero que você faça nada, só quero que você fique
longe de mim, siga sua vida em paz.
--
Eu estava doente Natalia, desequilibrada, não era eu agindo daquela forma, no
meu estado normal nunca faria aquilo, nunca te machucaria.
--
Mas machucou. Poderia ter te processado, você poderia estar presa, e proibida
de se aproximar de mim, e no entanto, está aqui, me seguindo. Eduarda eu não te
desejo mal, mas não quero mais te ver.
--
Por mais que você não acredite, não estou te seguindo, naquela noite na boate
eu sabia que você estava lá por que ouvi uma conversa do Emerson no telefone
com o Fernando, e me aproximei para dizer o que estou te dizendo agora.
Precisava me desculpar, só isso. E hoje o acaso me deu de presente essa
oportunidade, mas não vou tomar mais do seu tempo, estou vendo que você está
tensa.
--
Como você esperava que eu reagisse? Você me aprisionou na sua casa, me bateu...
Natalia sentiu a voz embargar
relembrando o trauma.
--
Eu me lembro do que fiz, e sofro também ao me lembrar disso. Depois daquele
episódio, fiquei internada por dois meses em uma clínica, estou fazendo
terapia, e parte dela era falar com você e pedir perdão. Entendo que você não
consiga me perdoar, mas, agradeço muito por você ter me escutado ao menos.
--
Eu desejo que você se recupere de coração, não te desejo mal. Mas, fique longe
de mim. Evite esses “acasos”.
--
Não se preocupe, não estou morando no Brasil, esses acasos não acontecerão com
tanta frequência.
--
Se era só isso, eu tenho que ir. Boa sorte Eduarda.
--
Para você também Natalia, desejo tudo de bom a você.
Com aquela questão resolvida,
Natalia sentiu uma estranha sensação de alivio. Não esperava uma conversa tão
tranquila com Eduarda, mas a serenidade da ex de alguma forma amenizou a tensão
que poderia ser insuportável.
A aproximação do julgamento mais
importante da sua carreira até então, não a deixou só ansiosa. A certeza do
reencontro com Diana encheu a promotora de medos e acendeu a saudade, o desejo
o amor escondido com a separação.
As lembranças da sua história de
amor com Diana perseguiram os meses que antecederam o julgamento. Tais
lembranças ganhavam o caráter cinematográfico quando a promotora revivia nas
fotos, nos vídeos, cada momento registrado no seu notebook. Tentada a fantasiar
o reencontro em alguns dias, Natalia mais uma vez ousou espiar os perfis das redes
sociais da fotógrafa, mesmo sem ressaltar o status de relacionamento dela,
Natalia deduzia pelas fotos de Diana com Daniela que as duas continuavam
juntas.
As deduções foram suficientes para
instalar uma profunda tristeza na morena, aliada a sensação de perda, de
fracasso. Recolheu sua dor e direcionou suas energias e pensamentos para sua
missão profissional, a qual segundo as especulações, seria a última como
promotora.
*************
Natália ajeitava sua
veste talar ministerial enquanto revisava alguns pontos do processo, a tribuna
ainda estava silenciosa, ao contrário do seu coração que de tão inquieto seria
capaz de explodir a qualquer momento. A ansiedade pelo júri não era motivo
suficiente para explicar tamanha inquietação, já que mesmo com pouca
experiência se sentia a vontade naquele ambiente, sempre se imaginou fazendo as
vezes de acusação, mas não fazia a linha dos Promotores tradicionais cujo
pensamento era sempre acusar, fazia questão de pedir absolvição quando o caso
concreto exigia, entretanto, no caso Acrísio não conseguia ter certeza sobre a
culpa ou a inocência do réu e pai do seu amor. Estava perdida em pensamentos
quando Carla chamou sua atenção.
-
Natália,
veja quem está chegando.
Apontou com os olhos para a entrada
do auditório. A Promotora sentiu o coração ainda mais acelerado, Diana,
acompanhada de Danilo e dos Advogados dos irmãos, mostrava sua identificação ao
Oficial de Justiça, que os encaminhou a sala reservada as testemunhas que
seriam ouvidas pelos Jurados. A Representante do Ministério Público, como
ligada no automático, saiu instintivamente atrás da Loirinha, a encontrou, numa
sala reservada, sozinha e de cabeça baixa, parada na porta não conseguiu entrar
na sala, só conseguiu murmurar:
-
Di?!
Diana levantou os olhos e
não pode deixar de se emocionar, durante alguns segundos passou um filme em sua
cabeça, cuja personagem principal era uma caipira desajeitada recém chegada a
universidade em busca do sonho. Aquela menina do interior se transformou numa
mulher ainda mais linda e uma profissional excepcional, desejou ardentemente
que as circunstâncias fossem outras. Natália ficou dividida entre a mágoa dos
últimos acontecimentos, que culminaram na separação das duas, e a vontade de
correr para os braços da sua Loirinha, experimentava o sentimento antagônico de
desejar colo da responsável pela sua tristeza. Venceu a mágoa, virou-se
procurando ar para os seus pulmões e deu os primeiros passos em busca do
corredor, Diana como que desperta de um transe correu atrás, alcançando-a
alguns metros a frente:
-
Natália
Um leve toque no ombro
foi o suficiente para despertar na Promotora uma profusão de sentimentos
antagônicos e incontroláveis, virou-se e acolheu em seus braços a metade que
lhe faltava.
-
Que
cena mais comovente
A ironia veio acompanhada
de palmas, Pedro trazia no rosto um sorriso dissimulado e um ar de superioridade.
-
O
banheiro é logo ali, não é lá que pessoas como vocês fazem essa nojeira toda?!
Diana teve o impulso de
partir para cima do antigo amigo, foi impedida por Natália.
-
Diana!
Não entre no jogo dele, tem jornalistas por toda parte, tudo que ele quer é um
escândalo sem tamanho, desviar o foco do julgamento.
A tensão foi quebrada
pela Juíza que se dirigia ao auditório do Fórum, onde se instalaria a Sessão do
Tribunal do Júri, avisando que iria dar início aos trabalhos.
* * * * * * *
A plenária do auditório
já estava completamente ocupada, familiares das vítimas, jornalistas,
estudantes de direito e curiosos, além dos 25 convocados a servirem naquela
sessão em um lugar reservado. A Dra. Valentina declarou instaurada a Sessão do
Tribunal do Júri e em seguida procedeu o sorteio dos 7 jurados que iriam compor
o Conselho de Sentença, tanto a acusação quanto a defesa fizeram uso da
possibilidade de recusarem até 3 jurados, Natália queria um maior número de
mulheres na composição, Pedro, em contrapartida, tinha interesse em um maior
número de homens, após o sorteio de treze nomes e seis recusas o corpo de
jurados foi composto de 5 mulheres e 2 homens. Após os procedimentos de praxe
teve início o julgamento de Acrísio Toledo.
-
Chamamos
para depor a testemunha de acusação Diana Toledo, que será ouvida como
declarante.
Durante toda a inquirição
de Diana a Promotora se mostrou incomodada com as caras e bocas feitas por
Pedro, a cada pergunta da acusação dirigida a Lorinha, o advogado de defesa
esboçava sorrisos dissimulados, expressões de espanto e a todo instante se
valia do Pela ordem característicos dos advogados quando queria
interferir na fala da outra parte, foi preciso a interferência da Juíza para
que Natália, visivelmente alterada e sem paciência, continuasse as suas
perguntas. Após o Parquet, foi a vez de Pedro sabatinar a declarante.
-
Diana
Toledo, você tem ideia que as suas declarações tem um peso maior contra o seu
pai, em se tratando de um Tribunal do Júri?
-
Protesto
Meritíssima! O Advogado de defesa quer pressionar a declarante, induzindo-a a
se sentir culpada pelas declarações. - Bradou Natália em defesa de Diana.
-
Protesto
aceito, a declarante não precisa responder a pergunta.
Pedro fez mais algumas
perguntas, que na ótica da Promotora eram bobas, o que a deixou ainda mais
tensa, imaginando o que o Advogado pretendia com aquele teatro todo.
-
Para
encerrar a inquirição, eu gostaria que a declarante dissesse aos jurados qual o
tipo de relação mantem com a Dra. Natália Ferronato.
Diana engoliu a seco a
última fala de Pedro, enquanto os cochichos se alastravam na platéia, lançou um
olhar suplicante para a Promotora que após alguns segundos de apagão interferiu
na pergunta.
-
Meritíssima,
Dr. Pedro mais uma vez está fazendo insinuações com o propósito de constranger
a declarante.
-
Protesto
negado, a declarante pode responder a indagação da defesa.
Diana se viu compelida a responder, e
o fez com a voz embargada:
-
Eu
e a Dra. Natália nos conhecemos... Hummm, hammm, na faculdade, estudamos juntas
em algumas oportunidades.
Pedro claramente descontente com a
resposta retrucou:
-
É
mentiiiiiiiiira!
Andando de um lado para
outro, usando toda a extensão do auditório, começou a desferir uma série de
acusações contra Diana e Natália:
-
Senhores
Jurados, Diana Toledo e Natália Ferronato são amantes desde o tempo da
faculdade! O Sr. Acrísio, homem de conduta ilibada, respeitador dos bons
costumes e da família, tentou de todas as maneiras acabar com essa pouca
vergonha, conseguiu separá-las por um tempo, mas elas já estão fornicando
novamente, e o que é pior, estão tramando a condenação desse homem inocente.
Pedro estava
completamente alterado, era notável a diferença para aquele que ainda a pouco
se revestia de uma tranquilidade impactante, agora se mostrava completamente fora
de controle, desferindo palavras agressivas e preconceituosas. Os cochichos de
antes se tornaram um verdadeiro alvoroço, o repórteres falavam todos ao mesmo
tempo em suas transmissões ao vivo, os Jurados se entreolhavam cheios de
dúvidas sem poderem se comunicar. Diana viu os olhos marejados da sua amada
tentando nitidamente conter as lágrimas, sentiu o coração se partir em mil
pedaços, sabia o quanto as palavras de Pedro poderiam repercutir não só naquele
julgamento, mas principalmente na carreira de Natália, de quem era exigido uma
conduta irretocável pelo cargo que ocupa e se ver envolvida num escândalo
daquela proporção, e o que era pior, no ambiente de trabalho. A Juíza tentou a
todo custo impor ordem e silêncio, mas não teve êxito, achou mais prudente dar
um intervalo, para que os ânimos se acalmassem. Na primeira oportunidade que
viu, Natália sumiu acompanhada de Carla, trancou-se na sala destinada ao
Ministério Público.
-
Carlinha
ele fez tudo planejado, assumiu a defesa de Acrísio com a clara intenção de
expor eu e Diana ao ridículo, tanto que esperou até agora para desferir as
acusações, o que eu vou fazer?
-
Natália,
vamos tentar manter a calma, precisamos raciocinar e encontrar uma forma de
você sair dessa arapuca que ele armou.
-
Como
Caaaaaarla? - Natália estava completamente fora de si.
A assistente pegou
Natália pelos ombros e a chacoalhou falando num tom de comando.
- Dra. Natália Ferronato você precisa
se acalmar.
A morena ficou imóvel por alguns
instantes até desfalecer numa poltrona.
- Nati, eu sei que você está com os
nervos a flor da pele, que a sua vontade é esganar o Pedro, mas agora é hora de
agir com a razão, assumir o seu papel de Promotora de Justiça e reverter essa
situação.
Enquanto as duas traçavam
uma estratégia, Diana tentava em vão escapar dos jornalistas que a cercaram em
busca de mais informações, pareciam abutres debruçados sobre um animal recém
abatido, só conseguiu se desvencilhar deles graças a ajuda de Lucas que usando
de sua autoridade ordenou a formação de um cordão humano de isolamento.
-- Lucas eu preciso ver a Natália!
-- Di, nesse momento só iria piorar
as coisas, a Carla me avisou que está com ela, que estão tentando encontrar uma
forma de reverter a situação, procure se acalmar que ainda vem muita coisa pela
frente.
O julgamento recomeçou
após uma hora e meia de intervalo, com os ânimos ainda exaltados, mas com uma
Juíza mais firme e uma Natália guiada pela razão. Reaberta a sessão a Juíza deu
a palavra ao Ministério Público para se manifestar acerca da Exceção de Impedimento
aventada pela defesa.
-
MM.
Juíza, considerando a ausência de provas do alegado pela defesa, bem como a
suscitação extemporânea da Exceção de Impedimento, vez que a defesa já teve
oportunidade em falar no processo diversas vezes e não o fez, resta
clarividente a má fé das alegações, cujo objetivo principal é denegri a imagem
do Ministério Público perante o Conselho de Sentença. Razão pela qual, opina
pelo indeferimento do pedido e consequente prosseguimento do julgamento.
A Juíza acatou os argumentos
da Promotora e indeferiu o pedido de Pedro, dando continuidade ao Julgamento de
Acrísio. Foram ouvidas as testemunhas de acusação e defesa e em seguida o réu
foi interrogado, mantendo a posição do inquérito e instrução, a confissão. O
momento mais aguardado foi o dos debates orais, viu-se uma Natália segura, com
uma oratória invejável, utilizando-se do fato do Júri ser composto em sua
maioria por mulheres, usando a estratégia da emoção, mostrando que estavam na
plateia mães, esposas e filhos que perderam seus filhos, maridos e pais nas
terras da Verdes Canaviais, finalizou, com o coração em frangalhos, pedindo a
condenação de Acrísio Toledo. Pedro não havia se preparado para o momento
posterior a sua vingança, fez um discurso disperso, muito mais técnico, uma vez
que o seu cliente insistia em sem réu confesso, deixou para usar da emoção na
tréplica, o que foi uma estratégia equivocada, já que a Promotora satisfeita
com a sua primeira fala decidiu por não utilizar-se da réplica, o que encerrou
os debates. A Juíza explicou como se daria a quesitação e em seguida os Jurados
foram levados para decidir o destino do pai de Diana.
Uma hora após os Jurados
se recolherem para votação, a Juíza voltou com a sentença em punho, passando a
ler:
-
DECISÃO:
Isto posto, por força de
deliberação proferida pelo Conselho de Sentença que JULGOU PROCEDENTE a
acusação formulada na pronúncia contra os réus ACRÍSIO TOLEDO e Nilton Silva,
ambos qualificados nos autos.
Diana sequer ouviu a
dosimetria da pena de seu pai, caiu num pranto silencioso, relembrando todos os
momentos vividos com aquele que fora seu herói na infância, não conseguiu
identificar qual o marco que deu início a uma mudança tão brusca de
comportamento, ilícitos e mais ilícitos numa vida política conturbada, não
conseguia acreditar que fosse capaz de tirar vidas, tinha a plena convicção que
estavam condenando a pessoa errada.
-
Após
o trânsito em julgado, feitas as devidas anotações e comunicações, lancem-se os
nomes dos réus no livro Rol dos Culpados.
Em meio ao alvoroço dos
jornalistas se apressando para flagrar as melhores fotos e arrancar alguma
declaração dos envolvidos no julgamento, a comemoração de familiares das vítimas,
o estampido de uma bala ecoou no tribunal.
Segundos de silêncio
precederam o brado de Douglas que atravessou a pequena multidão aos empurrões
com uma pistola na mão:
-- Larguem meu pai!
A
atitude insana do deputado surpreendeu até mesmo os policiais e outros
seguranças presentes na sala, que tentavam acalmar as pessoas e ao mesmo tempo
render Douglas que girava o corpo apontando a arma para quem tentasse se aproximar.
-- Meu filho o que você está fazendo?
- Acrisio perguntou
-- Consertando uma injustiça papai. Não
ouviu o que eu disse? Larguem meu pai, tirem essas mãos sujas dele!
-- Douglas isso é loucura meu filho
se acalme, abaixe essa arma... – Acrisio insistia.
-- Loucura é prender um homem como o
senhor pai! A culpa disso tudo é dessa vagabunda aqui!
Douglas
apontou a arma para Natalia e se aproximou da promotora.
-- Douglas abaixe essa arma, nós
vamos recorrer dessa sentença... – Danilo tentava acalmar o irmão.
-- Você cale a boca! Eu devia ter
dado um jeito em você seu merda traidor! Não merece o pai que tem!
Com
o rosto suado, visivelmente transtornado Douglas berrava. Os policiais se
entreolhavam combinando uma abordagem surpresa, quando Douglas avançou em direção
a Natalia, tornando-a seu escudo humano.
-- Agora você vai pagar sua sapatão
safada... Vai pagar por se meter com os Toledo Campos.
Douglas
cuspiu ao ouvido da promotora, despertando arrepios e pânico na morena.
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